Situações como a que estamos vivendo nos “empurram” para algumas reflexões. De certa forma, paramos de reagir e começamos a agir! Aos poucos, a mudança da rotina está nos tirando dos piloto automático. Estamos pensando! Estamos sentindo.
Essa quarentena a que estamos nos submetendo, de forma menos ou mais voluntária, está servindo, de muitas formas, para que revisemos nossos hábitos. Há gente que não cozinhava e que agora está cozinhando. Há quem nunca tinha tempo para ficar com os filhos e que, agora, de uma hora para outra, está redefinindo o significado de “ter filhos”.
As brigas pequenas estão ficando cada vez menores. Os gritos desesperados que nos habituamos a conviver, de um lado e do outro, estão, pelo menos para mim, menos relevantes. Para mim, aliás, nunca foi tão óbvio que defender o indefensável não faz o menor sentido – não importando em que extremo ideológico ele se encontra.
Pais e filhos estão trocando de lugar. A sabedoria, geralmente associada aos mais “experientes”, se manifesta todos os dias em gente que acorda e pede para que os mais velhos fiquem em casa.
Ficar em casa, aliás, algo que muitos de nós desaprendeu a fazer voltou a fazer parte da rotina. Cansados das notícias ruins, muitos de nós estão deixando os aparelhos de TV desligados. O mesmo se aplica para as redes sociais.
Não por falta do que fazer – afinal, sou privilegiado por poder fazer boa parte do meu trabalho “em casa” – as vezes me pego divagando. Outro dia, senti minha pulsação acelerar ao imaginar um cenário onde os mais “suscetíveis” ao vírus não eram os mais velhos, mas os mais novos. Ainda choro quando esse pensamento teima em retornar. Faço força para pensar em outras coisas.
Outro dia, escrevi um relato, grato, considerando a sorte que tive de conseguir voltar para casa de uma viagem atrapalhada, em segurança, com minha família. Agora, não consigo deixar de pensar nas pessoas que não tem uma casa para voltar.
Há poucas horas, estava reclamando do fato de, em quarentena, em virtude da “seca” que assola os estados do sul, estarmos sem água chegando em nossa casa. Neste momento, não consigo deixar de pensar nas pessoas que caminham quilômetros todos os dias para pegar um balde de água suja para ter o que beber e com o quê preparar a comida.
Há minutos reclamei de uma “notícia ruim”, aparentemente redigida para fazer o que é muito ruim soar muito pior. A notícia falava de um jovem de “trinta e poucos” que havia falecido em função de complicações causadas pelo Coronavírus. Minha revolta aconteceu por não encontrar no título menção ao fato dele já estar sofrendo de outro mal há algum tempo. Só agora, me dei conta que, para alguém – que é mãe, pai, irmão – a notícia de alguém que se foi continua horrível, independente da forma como foi escrita.
Situações como a que estamos vivendo nos “empurram” para algumas reflexões. De certa forma, paramos de reagir e começamos a agir! Não por conta do fim do piloto automático, mas pela consciência de que há, ainda, muito mais pelo que agradecer e muito menos pelo que lamentar.