Em contextos extremos, é bom lembrar que é importante dedicarmos esforço para aquilo que, de alguma forma, influenciamos. Se um problema tem solução, resolvido está. Se não tem, resolvido também!
Independente da minha ou de sua vontade, o sol irá voltar a brilhar amanhã (ainda bem). Também, algum dia, alguém que amo vai partir, por mais que eu lamente. Inevitável e certo!
Aristóteles chama o inevitável e certo de necessário.
Há também eventos que não seriam, em última análise, inevitáveis. Mas, que ocorrem independente da nossa vontade consciente.
Cavar um buraco e encontrar petróleo. Sair de casa e encontrar o amor de uma vida. Encontrar uma doença crônica em um exame de rotina não relacionado. Pedir demissão em uma empresa para assumir uma posição em outra que “fecha as portas”, dias depois, sem sinal algum. Abrir uma empresa e “quebrar” em seguida em função de uma pandemia. Imprevisto e impactante!
Aristóteles identifica a ocorrência de eventos impactantes, mas que acontecem ao acaso, como contingente. Alguns usam a expressão fortuna.
Há, por fim, os eventos que acontecem em função direta daquilo que decidimos. Ou seja, são frutos de nossa vontade.
Concluir a leitura de um livro, escolher que curso frequentar na faculdade, contratar ou demitir, levantar ou continuar deitado, conquistar ou roubar, lutar ou desistir.
Aristóteles denomina um evento e coisa que é “produto” direto de nossa vontade como possível.
O contingente é uma das explicações de como tudo pode dar errado para gente que está se esforçando para fazer tudo certo. Também pode explicar como tudo pode parecer dar certo para quem, a primeira vista, está fazendo tudo errado.
Quando se diz que “a política é a arte do possível”, por exemplo, o que devemos traduzir é que ela acontece a partir da vontade e da escolha, bem diferente do que alguns pensadores, frequentemente rasos, tentam fazer entender.
Maquiavel dizia que o grande príncipe é aquele que opera com o contingente, tendo em vista o possível. Seria uma visão sofisticada para o dito popular que diz que a “sorte ajuda quem está preparado”.
O fato é que temos nenhuma escolha para aquilo que é “necessário” ou para aquilo que é “contingente”. Só temos escolha no que é “possível”. É triste, mas essa é uma verdade bem entendida há milênios.
“Não adianta dar murros (possível) em ponta de facas (necessário)”. Se o que fazíamos até ontem não funciona mais hoje, é hora de fazer algo diferente.