Isaías 48 pertence ao conjunto conhecido como “Segundo Isaías”, escrito não pelo profeta original, mas por um autor anônimo durante o exílio do povo de Israel na Babilônia, até a libertação promovida por Ciro, imperador da Pérsia.
Neste capítulo, Deus repreende Israel por sua infidelidade. Ele conhece o coração de seu povo, mas ainda assim o perdoa e reafirma seu compromisso de amor e fidelidade.
“Não há paz para os ímpios”, declara o Senhor. Essa afirmação carrega uma dimensão moral e espiritual: a verdadeira paz não existe para quem se afasta de Deus. Já a expressão “Eu sou o primeiro e o último” revela a unidade essencial de todas as coisas em Deus, que transcende o tempo e o espaço.
A partir dessa mensagem espiritual, o texto conduz o leitor de volta ao plano literário. Retoma motivos tradicionais do Deuteronômio e da teologia deuteronomista — a eleição de Israel, sua infidelidade recorrente e o apelo ao arrependimento —, fundindo-os à linguagem sapiencial do “ensinador no caminho” e a fórmulas típicas dos salmos históricos, como “não foi em segredo desde o princípio” (v.16). A menção a Ciro reforça a afinidade com as tradições que reconhecem o papel do rei persa na restauração do povo.
Mesmo quando o povo se cala, Deus fala como fonte que não seca. Ele permanece fiel, ainda que Israel não o seja.