Percebo uma coisa simples. A vida muda quando muda por dentro. A Bíblia sussurra isso o tempo todo. Jesus diz que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6:45). Paulo lembra que só consolamos com o consolo que recebemos (2Co 1:4). Se o copo está vazio, o que exatamente vai transbordar?
Entendo, então, que cuidar de mim não é egoísmo. É base. Amar o próximo como a mim mesmo (Mt 22:39) só funciona quando esse “mim mesmo” está inteiro. Como sustentar alguém quando mal consigo ficar de pé? Coração nutrido transborda. Coração esgotado só espalha cansaço.
Vejo isso até em Deus. Ele consola porque é o Deus de toda consolação (2Co 1:3). Primeiro identidade. Depois ação. A ordem não negocia. A graça que entra é a graça que sai. A cura que recebo é a que ofereço. O resto é tentativa vazia.
A imagem que fica é simples. Quando Deus enche, escorre. Sem esforço. Sem pose. Só consequência. Quando tento dar antes de ter, fico raso. Quando deixo Deus trabalhar dentro, a entrega flui. O outro deixa de receber migalha e recebe fruto.
Talvez crescer na fé seja isso. Permitir que Deus preencha o que falta para que o que falta em mim não vire ausência no outro. Porque ninguém dá o que não tem. E quem tem, transborda. Sempre.