O trabalho do profissional Júnior, em muitos ambientes, já pode ser substituído por inteligência artificial. Mas uma questão permanece: sem as cicatrizes do “trabalho de Júnior”, como desenvolvemos a senioridade?
Nos escritórios de advocacia, era comum que os juniores lessem processos e contratos, oferecendo sínteses aos profissionais mais experientes. Essa prática ensinava a interpretar — uma habilidade essencial para, mais tarde, saber julgar com profundidade. Mas será que isso ainda é verdade?
Desenvolvedores de software também precisavam passar pelas dificuldades de escrever código para, então, valorizar o bom design. Certo?
Pois é. Talvez isso não seja mais uma necessidade.
A humanidade sempre buscou deixar para trás o trabalho mais braçal, priorizando o esforço intelectual.
No passado, nos primórdios da tecnologia da informação, existia a figura do digitador — alguém responsável por alimentar os sistemas. Com o tempo, quem executava o trabalho passou a ser também quem digitava. Agora, com sensores e automação, boa parte da digitação nem sequer é mais necessária.
Outro ponto importante: os algoritmos sempre foram concebidos de forma matemática, depois associados a problemas específicos, e por fim traduzidos em código. Na prática, é apenas essa última etapa que a IA realiza hoje e, mesmo assim, de forma parcial. A criatividade continua sendo uma prerrogativa humana. Estamos apenas delegando à máquina o que antes fazíamos por falta de uma opção melhor.
Somos humanos e uma das nossas maiores capacidades é criar ferramentas que tornam a vida mais fácil.
Não se trata de abandonar o aprendizado que vem com o trabalho júnior, mas de repensar o papel do Júnior. Isso é progresso.
Seu texto é necessário e traz uma leitura sincera do momento, sem ser exageradamente otimista nem pessimista. Só fiquei em dúvida: não faz muito tempo você mesmo falava das cicatrizes que todo júnior precisa, lembrando como o mercado acelerado conferia títulos a quem ainda engatinhava e como, nos seus cursos de algoritmos, veteranos só percebiam o valor de voltar ao básico revisitando os fundamentos. Não vejo a IA preenchendo essa lacuna formativa e receio que a mão invisível da indústria acabe “resolvendo” o problema ao suprimir junto com os formandos toda a ineficiência necessária ao aprendizado.