Há momentos em que pedimos direção, mas já carregamos a decisão no bolso. Jeremias 42 mostra isso sem piedade. O povo promete obedecer, mas não quer obedecer. Quer aval. Quer que Deus assine sua fuga. Todos fazemos isso: chamamos de prudência o que, no fundo, é medo.
A resposta divina chega depois de dez dias. Silêncio que revela intenções. Permanecer seria confiar. Fugir seria repetir padrões antigos. O Egito parece seguro, mas é só a velha tentação de voltar para o que escraviza porque o novo assusta.
O texto sussurra uma verdade incômoda: coragem não é ir para longe; é ficar onde a vida pede reconstrução. O medo nos empurra para rotas familiares, mesmo quando elas já falharam. A fé nos ancora no lugar difícil, mas fértil.
Jeremias 42 não fala apenas do povo. Fala de nós. De todas as vezes em que pedimos direção desejando apenas confirmação. De todas as vezes em que corremos para longe do lugar onde Deus nos plantou. De todas as vezes em que confundimos movimento com salvação.
A escolha continua sendo a mesma: fugir para a velha segurança ilusória ou permanecer onde a promessa ainda trabalha.