Dia de Salmo 100. Curtinho. Um dos mais famosos. Um convite à gratidão alegre a Deus e também à adoração coletiva. Já foi cantado literalmente em um hino cristão famoso.
O salmo utiliza o paralelismo, técnica de repetição comum nos salmos para reforçar suas ideias. Trata-se de um texto inclusivo, que estende o senhorio de Deus a toda a terra, não apenas a Israel.
Mas surge uma pergunta: por que adorar ou agradecer a Deus por algo que parece essencial à sua natureza — isto é, criar, sustentar, cuidar? Deus não precisa da nossa gratidão. Mas nós, sim.
A gratidão autêntica não é bajulação, mas reconhecimento ativo de que, em um mundo que tende ao caos, há um ideal, representado em Cristo, que conduz à vida feliz. E, sendo a vida feliz, ela é naturalmente alegre. Assim, a gratidão torna-se ação.
Esse movimento é ao mesmo tempo psicológico e espiritual: uma tentativa de equilíbrio interior e também de conexão com o Todo. Ainda que Deus aja por sua essência, nós agimos por liberdade, e isso nos torna capazes de sentir, amar, agradecer.
A linguagem, por sua vez, falha em descrever plenamente esse mistério. Por isso o antropomorfismo, apesar de limitado, é recurso válido, desde que consciente. O essencial talvez não se diga: se vive. E esse viver, essa tentativa contínua de expressar o inefável, é a própria essência da gratidão descrita no salmo.
Agradecer, assim compreendido, é necessário: para não cair no cinismo, para não fazer da razão uma idolatria. Há um caminho entre a superstição e o vazio, e ele começa, talvez, com um canto de agradecimento.