Começo o dia com o Salmo 137.
Um lamento. Anônimo. Ferido.
Escrito nas margens do exílio.
“Às margens dos rios da Babilônia nos sentávamos e chorávamos.”
Poesia no início. Dureza no fim.
Mais que histórico, é existencial.
Fala da alma em exílio.
Distante de Deus. Distante da pátria espiritual.
Babilônia é o mundo que distrai.
Os rios, o fluxo da vida que arrasta.
Sião, a memória da comunhão perdida.
A recusa em cantar é resistência.
Fé que não se acomoda.
Que não transforma dor em espetáculo.
O salmo carrega dor coletiva.
A dor de quem perdeu tudo.
Terra, templo, identidade.
É a voz dos que vivem em ruínas.
Dos que ainda não voltaram.
A violência do final não é lição.
É grito. Clamor por justiça.
Não para ser repetido, mas redimido.
Em Cristo, aprendemos outro caminho.
A vitória sobre o mal não vem da vingança.
Vem do perdão.
Rezar esse salmo é reconhecer os exílios que ainda habitamos.
E afirmar, mesmo em terra estranha:
“Se eu me esquecer de ti, Jerusalém…”
Que minha memória siga fiel.
Porque os cânticos voltam.
Mesmo que hoje ainda doa.
Eles voltam.