Começo meu dia com o Salmo 92, atribuído a Davi. É um manifesto a gratidão. Não como consolo. Mas como critério.
O bem é estável. O mal, vistoso. Um cresce em raiz. O outro, em fachada. A gratidão proposta no Salmo não é resposta à abundância. É postura diante da ordem divina — ainda que, à vista, tudo pareça o contrário.
O crente não é próspero por ter tudo. É próspero por saber que, tendo Deus, não lhe falta nada. É outra lógica. Outro lastro.
Lido pela metade, o Salmo parece fuga. Um autoengano piedoso: pobre, mas feliz. Como se fosse preciso negar o sucesso do ímpio para justificar a fé. Não é isso. Não pode ser.
A suficiência não nasce da escassez. Nasce da comunhão. Quem não crê, mesmo com tudo, sente falta. Quem crê, mesmo com falta, sente paz.
Querer mais não é pecado. Mas precisar ter para não se sentir menos — isso é prisão. Deus dá riqueza. Mas não a usa como prêmio. Pobreza não é punição. Nem todo conforto é bênção.
A paz do crente não é fuga. É base de enfrentamento. Não fujo do conflito. Só não me alimento dele. Minha ação não é desespero. É consciência.
Prosperidade do justo não é troféu. É consequência de estar em sintonia. Não se impõe. Se manifesta.
Só não confunda base com teto. Deus é suficiente. Mas a criação exige movimento. Deus não é quem distribui o bem. É o próprio Bem.