O ser humano está condenado à liberdade e, por isso, muitas vezes mente para si mesmo ao fugir da responsabilidade de suas escolhas.
Ao contrário do que se pensa, a liberdade não é um privilégio confortável — ela é uma condenação, porque nos obriga a escolher continuamente, mesmo quando fingimos que não estamos escolhendo.
O homem não é outra coisa senão aquilo que ele faz de si. E isso é insuportável para muitos, pois significa que não há desculpa — nem Deus, nem natureza, nem sociedade, nem inconsciente — que possa nos absolver. Tudo é escolha!
A má-fé surge como um refúgio diante dessa verdade brutal.
Quando uma pessoa se esconde atrás de um papel social, de uma norma ou de uma emoção para justificar suas ações, ela tenta escapar da responsabilidade que a liberdade impõe. Ela se nega enquanto sujeito para ser coisa.
Mas é uma fuga fadada ao fracasso. Porque, no fundo, ela sabe. Sabe que está escolhendo, inclusive ao se omitir. Essa tensão entre o saber e o negar é o cerne da má-fé. É aí que mora a dissonância existencial — mais profunda que qualquer conflito entre ideias, pois é o conflito entre o ser e o querer-não-ser.
A consciência humana, por ser intencional e reflexiva, não pode se esconder de si mesma por completo. Assim, mesmo na mentira, existe um resto de verdade. E é justamente esse resto que torna a má-fé tão inquietante — é uma mentira que carrega sua própria denúncia.