Vi um vídeo do professor Leandro Karnal e fiquei pensando em como muita gente lê a Bíblia no automático, esperando respostas prontas. Karnal lembra algo simples que quase ninguém pratica: interpretar exige método. Exige consciência.
Ele propõe seis perguntas que viram a chave.
A primeira é quem fala e para quem. Nenhum texto nasce solto. Paulo ajusta o tom conforme o público. Profetas mudam a ênfase conforme a crise. Entender o destinatário é entender metade da mensagem.
Depois vem o gênero. História não é poesia. Poesia não é profecia. Apocalipse não é manual. Cada forma tem seu código. Ignorar isso é pedir para errar.
Também tem o contexto histórico. Exílio, perseguição, queda do Templo. Nada disso é neutro. Molda cada metáfora e cada desabafo.
Ele fala ainda das palavras-chave, aquelas repetições que revelam a teologia do autor. “Cáritas”, por exemplo, entrega muito de Paulo.
Outro ponto é o movimento interno. Todo texto caminha. Começa em um lugar e termina em outro. Perder isso é perder o sentido.
E, por fim, a coerência. Um versículo isolado é sempre perigoso. A Bíblia só faz sentido quando lida inteira.
Esse método clareia tudo. O desespero de Jeremias. A intensidade dos Salmos. A “loucura” cristã das cartas. Ler bem não é decorar versículos. É enxergar o texto como texto e só depois decidir o que ele diz para nós.