Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Quando não é pela satisfação sádica proporcionada pela dor alheia é pelo alívio cruel de não ser afetado por um problema.
Compartilhei em uma publicação no site de negócios da EximiaCo, a constatação de que inteligências artificiais já estão conseguindo “entender” texto escrito em linguagem natural e, com isso e muito pouco treinamento, escrever código tanto para o frontend quanto para o backend. A conclusão, meio óbvia, é que teremos um aumento de produtividade gigante, eliminando “classes inteiras” de atividades que hoje ocupam tempo de gente. O lado positivo, para quem insiste em sempre ver o copo “meio cheio”, é que o verdadeiro “potencial humano” vai ser liberado para atividades ainda mais nobres. O lado negativo, para quem vê o copo “meio vazio”, é que muita gente vai precisar se reinventar e reposicionar, afinal, muito do trabalho, que hoje é fonte de sustento, passará a ser automatizado.
A novidade que compartilhei, visivelmente, gerou desconforto para muitos colegas. Muita gente “fez piada”, negando o óbvio. Outros, lamentaram o fato de se estar empenhando tanto talento para mudar a forma como trabalhamos. Entretanto, o curioso, é que houve pouca reação quando, meses antes, compartilhei outro post, também no site de negócios da EximiaCo, sobre o projeto Debater da IBM, que fatalmente mudará, de forma definitiva, qualquer profissão baseada em retórica e acesso de dados.
Por mais evidente ou grave que seja uma mudança, só a percebemos quando ela chega “mais perto da nossa casa”. Eu mesmo, só passei a entender as dores financeiras da pandemia quando passei a temer, de verdade, que meus clientes fossem afetados e reduzissem a alocação do meu time, alterando, mais do que a aproximação física, minha capacidade de prover para minha família. Da mesma forma, só entendi mesmo os impactos para a saúde do COVID-19 quando tive a notícia de que alguém bem próximo foi infectado e era afligido pelos sintomas. Eu “conhecia” a dor, mas só “senti” quando ela chegou perto.
Muita gente argumentou, eu inclusive, que a chegada do Uber era algo inevitável e “fez piada” com taxistas resistindo ao novo. O mesmo, quando chegou o AirBnB e outras inovações. É curioso, porém, ver como o “jogo muda” quando a profissão afetada não é a do outro, mas a nossa.
De tudo isso, aprendo! Empatia é algo extremamente difícil. É fato que nunca temos o “quadro completo” até viver a experiência que o outro está vivendo. Podemos até ter o “racional”, mas não temos o “factual”. Além disso, o risco real e eminente gera medo – e isso é humano.
Empatia é um desafio. Nada como o tal skin in the game para mover as pessoas.