Mais preocupante que o posicionamento do presidente é sua falta de constância. Há dois dias, uma medida provisória proposta pelo executivo defendia a suspensão dos salários por até quatro meses. Ontem, o presidente falava sobre os exageros das medidas adotadas para achatamento da curva de contaminação do COVID19 e recomendava que todos voltássemos a nossas rotinas.
Se liderar é “bater metas, com o time, fazendo a coisa certa”, parece que falta ao nosso chefe de Estado o básico da boa liderança. Não há metas claras, definitivamente não há alinhamento entre as falas do presidente e de seus ministros e, finalmente, o “certo” apontado pelo chefe da família Bolsonaro nunca foi um de seus pontos fortes.
O povo está confuso e nem poderia ser diferente. É notória a falta de articulação em todos os níveis do poder. Ao presidente, falta a capacidade de reunir os governadores e “combinar o jogo”. Aos governadores, sobra o que parecem ser interesses eleitoreiros e oportunistas potencializados pela crise.
A classe empresarial está em pânico e há boas razões para isso. Embora exista o “preconceito” de que todo empresário é um capitalista insensível, na prática, em nosso país, a maior parte da classe trabalhadora é empregada por empresários que não tem mais do que cinco funcionários. É gente que “trabalha junto” e que não tem recursos, nem caixa, para suportar a suspensão por muito tempo.
A maior evidência da falta de conexão com a realidade de nosso presidente é sua crença de que já foi um atleta. Afinal, qualquer amador sabe fazer “apoios” melhor do que ele. Se lhe falta humildade ou condições para reconhecer sua própria exposição ao ridículo em algo tão simples, como esperar mais dele em algo tão complexo?
Dilma caiu, principalmente, por falta de articulação política. Bolsonaro, que até outro dia encontrava no apoio popular sua maior fortaleza, corre riscos. Afinal, a população está cansando rapidamente.
Bolsonaro foi uma resposta ríspida aos desmandos e desvios de gente que envergonha a nação. Entretanto, infelizmente, ele mesmo parece mais com a “vergonha materializada”.
Eu, pela natureza do meu trabalho, viajo muito. Em virtude disso, ando mais de “uber” do que com meu próprio carro. Inegável dizer que grande maioria dos motoristas está fazendo esse trabalho por falta de opção. Alguns, até tentam criar uma “verdade favorável” ponderando que, como motoristas, são donos de sua agenda e podem escolher quais 15 horas do dia trabalhar. Esse pessoal, que tinha encontrado uma saída conduzindo pessoas, perdeu mais uma vez o rumo e isso é muito triste.
A imprensa, de fato, muitas vezes não ajuda. Sobram clickbaits e projeções questionáveis. É notória, por exemplo, a diferença de tom de notícias nos telejornais das diversas emissoras. A abertura do Jornal Nacional, principal informativo da nação, parece uma “metralhadora” armada com os “desastres do dia”.
Nas redes sociais, outro dia, todos eram especialistas em direito constitucionalista. Agora, parece que todos somos especialistas em pandemias. Na era da informação, a desinformação parece ganhar ainda mais espaço.
Enquanto o desastre acontece, o PT é covarde e faz uma “proposta pública” de remuneração mínima a todos os brasileiros, só esquecendo de dizer de onde o dinheiro virá. Comportamento canalha de gente canalha, mas que, de tão populista, seduz perigosamente aos desinformados e aos desiludidos.
Mais preocupante que o posicionamento do presidente é sua falta de constância. Aliás, os problemas no presidente estão em tudo que lhe sobra – arrogância, intolerância e preconceito – e em tudo que lhe falta – liderança, competência administrativa e senso do ridículo. Há bem pouco para destacar nesse homem que esteja na medida certa.
Que sobre ao povo brasileiro o equilíbrio que parece não ser o forte de nossas lideranças políticas.