14/06/2025

Sábado, depois das cinco.

Começo o dia com o Salmo 102, um salmo de lamentação, talvez escrito após o exílio babilônico. É um texto que chora, mas também confia. Um eco de fé que resiste mesmo quando tudo parece ruir.

Em meio ao caos, o ser humano busca por ordem. Não por negação da vida como ela é, mas por fidelidade ao anseio de como ela poderia ser. Crer em Deus é, nesse sentido, um gesto de criação. Não se trata da procura por um pai que vigia e pune, mas de um clamor por amparo. Não por alguém que veja ou abandone, mas por um todo que simplesmente é, sem forma, sem explicação, sem mudança.

Deus não responde no grito. Ele fala no silêncio. Sua presença não depende de definição, nem sua realidade de explicação. O que é permanece, mesmo quando não pode ser plenamente nomeado.

É a imutabilidade de Deus que o torna confiável. Aquilo que não muda pode ser esperado. Aquilo que permanece é o que sustenta. Nós, por outro lado, somos inconstantes. Tentamos fazer o bem, mas falhamos. E sofremos por isso. É nesse solo frágil que brotam a graça e a misericórdia. Graça é receber mais do que se merece. Misericórdia, menos do que seria justo sofrer.

No universo, percebo leis que não variam. Vejo nelas a expressão de Deus. Viver segundo essas leis é harmonizar-se. Ignorá-las é gerar desequilíbrio. Buscar a Deus é reencontrar essa ordem. E reencontrar ordem é encontrar consolo. Não se trata de submissão, mas de lucidez. Há caminhos que funcionam. E há os que não. Reconhecer isso é respeitar a realidade, não idealizá-la.

Somos livres. Mas a liberdade carrega o peso da consequência, mesmo quando nos falta consciência dela. O convívio com Deus se dá nesse processo de aprender, de perceber o que está ou não em conformidade com essa ordem. Por isso, fé não é certeza pronta. É exercício. É prática diária de escuta e alinhamento. E quem vive em meio ao caos sabe que a dúvida é uma companhia frequente. O sofrimento, muitas vezes, nasce da ausência de cosmos em nós.

Deus não abandona. Ele está no todo, e o todo nunca se ausenta. O que falta, por vezes, é apenas a consciência disso.

Podemos e devemos nos voltar a Deus nos dias difíceis. Há um consolo que não vem dele como gesto, mas que só é possível nele como presença. Ele não responde ativamente. Mas nunca silenciou. E esse silêncio só se torna audível para quem escolhe escutar. Ele não fala. Ele é.

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