Dia de Salmo 99.
Mais um salmo que convida à adoração — não ao medo. Um chamado à reverência. O texto menciona diretamente os líderes espirituais de Israel, assim como o monte santo, o que revela a importância das referências simbólicas no caminho da fé: são apoios para que o crente compreenda, ainda que em parte, as coisas de Deus.
O salmo reconhece o governo de Deus, fundado em justiça e juízo. É, nesse sentido, uma alegoria da ordem natural — contínua e imutável, como o próprio Deus. Ele não exige servidão, mas convida ao temor reverencial.
A ideia de que Deus reconhece os justos e castiga os ímpios não deve, a meu ver, ser interpretada de forma literal. Deus não escolhe premiar ou punir. Somos nós, em liberdade, que escolhemos caminhos — e, ao nos afastarmos do “bom natural”, enfrentamos as consequências inerentes aos nossos atos. Deus é amor, pois deseja o bem. Mas é também justo: dá a cada um conforme o que escolhe ser.
Deus não age como os homens descrevem a ação. Enquanto a nós é dada a ideia de descanso e de tempo, Deus é constante, eterno. Deus não faz — Deus é.
É o homem, por suas limitações, que representa Deus como alguém que quer, que se ira, que muda. Por falta de linguagem melhor, descreve-o como um ser que normatiza, que delibera. Mas isso está longe da realidade. Deus simplesmente é — é assim que Ele se apresenta nas Escrituras. Somos nós que negamos isso, ao insistirmos em defini-Lo por imagens nossas.
O que afasta muitos de Deus não é como Ele se revela, mas como nós O descrevemos.
Há um caminho onde tudo parece mais certo — mas esse caminho é um mistério. É busca. E é por isso que precisamos da Graça e da Misericórdia.