Fui pai aos 20 anos. Não foi fácil.
Foi determinante para minha carreira. E para minha vida.
Eu trabalhava de dia para comer à noite.
O desafio era simples: garantir o leite da criança.
E como era cara a lata do leite Nan.
Um dia, saí da empresa no fim da tarde.
Caxias do Sul. Frio cortando o rosto.
Todos os dias, eu ia caminhando para casa.
Dinheiro curto. Pernas dispostas.
Vinte minutos para ajudar o bolso e a saúde.
Na esquina da quadra onde ficava a sede da empresa, uma loja popular.
Daquelas de “Quase tudo por R$ 1,99”, mas estávamos em 2002.
O que custa R$ 1,99 hoje? Quase nada.
Entrei. Vi uma caçamba de plástico vermelha.
Enorme. Linda.
Bem mais do que R$ 1,99. Tudo bem.
Comprei para o meu filho. Ele merecia.
A embalagem também era grande.
Precisava ser grande. Muito papel.
Segui para casa. Pelas ruas.
Com um pacote gigantesco nos braços e um sorriso no rosto.
Cheguei.
Ele estava lá, sentadinho na sala, balbuciando alguma coisa.
Me olhou. Mas viu o pacote.
Ainda hoje lembro do sorriso nos olhos.
Veio engatinhando na minha direção.
Abaixei. A gente se encontrou.
Entreguei o pacote. Bem maior do que ele.
Ele abriu. Na verdade… eu abri. Eu estava ansioso.
Ele riu.
Empurrou a caçamba para frente e para trás.
Vrum-vrum.
Nos meus olhos… lágrimas.
E ele passou o resto da noite brincando com o papel da embalagem.
Eu podia ter comprado só o papel.
Fazia mais barulho. Teria sido mais barato. Ele não se importaria.
O preço ainda não tinha importância.
Os anos passaram.
Mas naquele dia, meu filho me ensinou que ele me mostraria tanto ou mais da vida do que eu poderia ensinar a ele.
Boa parte das minhas memórias que tem mais valor custaram bem pouco dinheiro.