A gente acorda cedo todos os dias para trabalhar.
Faça sol ou faça chuva, a gente vai ao trabalho, mesmo sem vontade, e quase sempre na hora certa.
Mais do que ir, a gente fica lá o dia todo e, às vezes, até faz alguma coisa de útil.
Em situações normais de temperatura e pressão, a gente trata o trabalho como um compromisso de longo prazo. A menos que a gente ganhe na loteria, daí, a história é outra.
Quase todos levamos o trabalho a sério, ou pelo menos reconhecemos que sem ele fica mais difícil fazer o que realmente levamos a sério.
Muitos fazem isso apenas pelo salário, uma pena. Mas, todos aceitamos remuneração, afinal, nem relógio trabalha sem corda, não é mesmo?
Mas, acho que ninguém gosta da ideia de ser apenas aquilo que faz. Pelo menos, todos pensamos que somos mais do que fazemos.
No geral, todo mundo quer melhorar no que faz no trabalho, embora nem todos façam o necessário. Afinal, alguém disse que esse é o caminho para ganhar mais.
Recebemos elogios e críticas sobre nosso desempenho e precisamos lidar bem com isso. Tem que estar tudo bem.
Tudo isso são características de bons profissionais. Somos profissionais.
Somos profissionais quando trabalhamos para os outros. Então, por que insistimos em ser amadores quando fazemos algo por nós mesmos?
A gente adia ou atrasa. As desculpas geralmente envolvem o clima – tá sempre muito quente, ou muito frio.
A gente começa, mas não termina. Inicia, mas não continua.
Eu, por exemplo, com as minhas dietas, com a academia, com hábitos saudáveis de leitura – prometo que é para vida toda, mas desvio na primeira oportunidade. Ou melhor, desviava, agora vai ser diferente.
Nos empenhamos… mais ou menos.
Às vezes, fazemos coisas para os outros até melhores do que fazemos no trabalho, sem cobrar nada. Não por caridade, mas por falta de autoconfiança. Ou para ter uma boa desculpa para não fazer mais. É duro ter um compromisso com a gente mesmo, sabe?
Se continuar é um desafio, melhorar então é impossível. Que o diga meu violão pegando pó, meu tabuleiro de xadrez…
Gostamos de elogios. Mas tratamos cada crítica como uma desculpa.
Todas essas características do amadorismo. Somos amadores.
Somos amadores em tudo o que fazemos para nós mesmos. Agora, me explica, como conseguimos ser tão profissionais colaborando para o sonho dos outros, de pessoas que às vezes a gente nem gosta tanto?