Empresas queridinhas estão tomando decisões nada queridas. Cortam benefícios, puxam de volta regras rígidas e desmontam flexibilidades vendidas como definitivas. Escritórios voltam a lotar. Home office vira exceção. Para muitos, parece traição. Não é. É o escasso reassumindo o comando.
Economia é a gestão do que falta. Onde falta, alguém escolhe. E quem escolhe manda. Quando o capital aperta, o discurso de liberdade encolhe. Narrativas cedem. O raro se concentra. Alguns controlam. A maioria depende.
O emprego sempre foi isso: dinheiro por tempo. Uma troca que define quem tem acesso ao recurso limitado. Quando o custo aumenta ou a pressão sobe, a empresa puxa de volta o que antes parecia conquista permanente. Não é moral. Não é ideologia. É aritmética.
A política tenta mediar esse poder. O político negocia capital social para influenciar quem realmente controla recursos. E a moral funciona como reação dos que dependem, tentando conter quem domina. É freio coletivo. Às vezes funciona. Quase nunca no ritmo desejado.
No trabalho, a dinâmica é a mesma.
Home office não está acabando porque gestores são malvados. Também não está acabando porque a produtividade caiu. Em muitos casos, ela aumentou. O problema não é a realidade. É a percepção. É a sensação de desperdício diante de um escritório caro e vazio, construído para sinalizar sucesso, mas exibindo o oposto. Um ativo ocioso incomoda mais do que qualquer métrica. No fim, percepção pesa tanto quanto fato.
Essa percepção se intensifica quando a abundância some. Flexibilidades só viram regra quando sobra. Quando falta, viram concessão. E concessões tendem a ser recolhidas no primeiro aperto.
Ser empregado não é problema. Ser facilmente substituível é. Empregabilidade continua sendo o único poder real do dominado. Raridade útil negocia. Raridade comum implora.
E a minoria realmente rara e valiosa tampouco dita comportamento de quem controla recursos. Nunca ditou. Só parecia mais forte quando o escasso era menos escasso.
O que vemos hoje não é retrocesso moral. É poder voltando ao eixo natural. E, à medida que as opções diminuem, o home office se torna exceção rara, quase um privilégio. Com a abundância indo embora, o apelo moral perde força. A política perde interesse. E o politicamente correto, curioso como sempre, inverte seu sinal. Curiosamente, emergem as vozes políticas e moralizantes que já defendem que o certo sempre foi o presencial.
Quem entende isso não se magoa. Se ajusta. Se posiciona. E trabalha para ser raro o bastante para escolher onde, como e por que trabalha. Pelo menos, enquanto ainda for possível.