Fracassar é sempre ruim? Assisti a uma MasterClass com o General Stanley McChrystal e saí convencido de que não. O conteúdo era excelente, mas o maior aprendizado veio no final, quando ele explicou algo que chamou de “O Dom do Fracasso”. Ali, tudo ganhou outra profundidade.
McChrystal não é qualquer nome. General de quatro estrelas, comandante das operações especiais dos EUA, líder no Afeganistão. Uma carreira inteira construída em cima de disciplina, estratégia e responsabilidade. E, mesmo assim, sua lição mais humana nasceu do pior dia da vida dele: a demissão pública, em 2010, depois que uma reportagem da Rolling Stone expôs comentários que minaram sua relação com o governo americano.
É desse colapso que ele extrai o “dom”. Ele diz que o fracasso limpa. Arranca expectativas alheias, desmancha identidades rígidas e interrompe caminhos que seguimos no piloto automático. No lugar disso, surge um quadro em branco. Duro, mas libertador. Porque ninguém volta ao zero. Você perde o cargo, mas não perde quem se tornou. Disciplina, valores, cicatrizes. Tudo isso atravessa com você. Reconstrução é sempre mais rápida e mais sábia do que construção.
Ele descobriu isso aos 55. A queda abriu portas que o sucesso manteria fechadas: Yale, livros, empresa, família. O fracasso virou combustível. Não lápide. E aí ele faz a distinção que muda tudo: falhar é um evento. Fracassado é uma identidade. Essa identidade só existe quando você para.
Ele também admite a dor. A humilhação. Os pensamentos pesados. Mas aprendeu que dor não se dissolve com fuga. Só com ação. Curar é atravessar, nunca evitar.
E aqui está o ponto central: O Dom do Fracasso é liberdade inesperada. Dolorosa, mas poderosa. A chance rara de viver um segundo capítulo mais honesto, mais maduro, mais seu. Uma vida que o sucesso contínuo — irônico, mas verdadeiro — jamais teria deixado você viver.
Se o teu quadro em branco aparecesse hoje, o que você faria com ele?