Hoje começo o estudo de Eclesiastes. Doze capítulos. Um tratado atribuído a Salomão, filho de Davi, o homem mais sábio e mais rico que já existiu.
Três livros são atribuídos a ele:
Cântico dos Cânticos, na juventude.
Provérbios, na maturidade.
Eclesiastes, no fim da vida.
Diz-se que, embora sábio e rico, Salomão viveu em decadência na segunda metade da vida.
Muitos apontam as muitas mulheres estrangeiras como causa. Mas creio que o problema foi a solidão.
Dentre mil mulheres, Salomão não conheceu nenhuma. Dentre mil homens, apenas ele.
Por algum motivo, ele se esqueceu de Deus. E por isso mesmo, Eclesiastes se torna uma grande lição, não de quem foi perfeito, mas de quem entendeu onde errou.
Salomão se apresenta como o Pregador. Alguém que fala diante de uma assembleia. Compartilha sabedoria nascida do tempo, do poder e do arrependimento.
O livro começa com a frase que define seu tom: “Vaidade das vaidades, diz o Pregador, vaidade das vaidades. Tudo é vaidade.”
A palavra usada no hebraico é “hevel” – vapor, névoa. Não significa apenas futilidade. É transitoriedade.
É o que escapa quando tentamos agarrar: prazer, fama, conhecimento, realização.
Nada disso se sustenta. Não preenche. Não dura.
Salomão observa: não há nada novo debaixo do Sol.
O ciclo se repete. O Sol nasce e se põe. Os ventos giram.
Os rios correm para o mar, e o mar nunca se enche.
A vida gira sem avanço real. “Debaixo do Sol” não é geografia, é perspectiva.
É viver sem transcendência. Acima do Sol, há Deus. Novo, só nEle.
O que o ser humano constrói, logo se desfaz.
É esquecido. Transformado. Ignorado.
Só Deus cria para a eternidade. Só Ele sustenta o que faz.
Reis e servos. Sábios e tolos. Todos passam. Tudo é hevel.
Se há sentido, não está aqui. Nem nas coisas que o tempo corrói. Está em algo mais profundo. Espiritual.
Eclesiastes começa com desalento. Mas prepara o caminho para a revelação.
Não nega o vazio. Aponta o que pode preenchê-lo.