Antes de qualquer coisa, um aviso. O que quero compartilhar aqui não exige nenhuma crença religiosa específica. Dá para acompanhar essa reflexão sem acreditar em Deus, em anjos, em demônios ou em qualquer estrutura de fé. Eu tenho a minha fé, claro. Mas ela não é pré-requisito para o que vem a seguir.
Dito isso, talvez seja importante reconhecer algo simples. No mundo existem dois tipos de realidade. Não no sentido de dois mundos separados, mas de dois níveis do mesmo mundo. Existe o plano físico, onde estamos inseridos, onde percebemos as coisas, onde o corpo sente, reage, cansa. E existe o plano espiritual, que não se impõe do mesmo jeito, mas onde muita coisa é definida antes de aparecer.
O plano físico é expressão. O espiritual é definição. O que aparece no mundo do corpo é consequência de algo que foi decidido em outro nível. Isso independe de fé. Basta admitir que nem tudo que organiza a realidade se deixa ver. Tem coisa que aparece. E tem coisa que decide.
Essa distinção não é nova. Platão falava de um mundo que se vê e de um mundo que se entende. Aristóteles lembrava que matéria e forma caminham juntas. Uma expressa a outra. Agostinho de Hipona percebeu que essa tensão atravessa o próprio ser humano. E Tomás de Aquino foi direto: o espiritual não substitui o físico. Ele o informa.
Talvez o erro seja imaginar o espiritual como algo distante da vida concreta. Como se fosse fuga. Aqui a provocação é outra. O espiritual não nega o físico. Ele o sustenta. O físico mostra. O espiritual define. Não são dois mundos. É o mesmo mundo, lido em níveis diferentes. Esse é o ponto de partida. Não uma conclusão.