Chego a Cânticos 5. Um dos livros de Salomão, escrito em sua juventude. No tempo em que o coração ainda ousava correr, quando o amor era fogo recente, sem vergonha, sem cálculo, sem freio.
O Amado bate à porta.
“Abre-me, irmã minha, querida minha…”
Mas a Amada hesita.
Já se acomodara. Já era noite.
Quando enfim abre, o Amado já partira.
Também eu hesito.
Também eu adio.
Deixo Deus esperando, como se sempre houvesse amanhã.
Mas há chamados que não voltam.
A Amada sai pela noite. Busca.
Encontra guardas. É ferida. Humilhada.
Amar expõe. Buscar envolve risco.
Também a fé é assim: seguir o Amado pode ferir, pode custar.
Mas o desejo cresce na ausência.
Ferida, ela se lembra dele.
Descreve-o da cabeça aos pés.
Recorda sua beleza, sua doçura.
“Ele é totalmente desejável. Tal é o meu Amado, tal é o meu amigo.”
Assim também eu, quando não vejo Deus.
Volto à memória de quem Ele é.
Reconto Suas obras.
E essa lembrança sustenta minha busca.
Cânticos 5 mostra que o amor não é só encontro.
É demora, é ausência, é saudade.
É resposta pronta, ou oportunidade perdida.
É ferida que não apaga o desejo.
É seguir buscando Aquele que é único.