Será que ouvimos mesmo?
Ou só esperamos a nossa vez de falar?
As pessoas falam. Muito.
Mas escutam pouco.
Já nem percebem quando cortam o outro no meio da frase.
É pressa? Egoísmo? Ansiedade?
Tanto faz.
O resultado é o mesmo:
mais barulho, menos escuta.
A escolha parece ser entre frases simples, quase rasas — ou frases que não chegam ao fim.
A pressa vira afobação.
E o que se vê é gente repetindo o que já foi dito.
Não pra reforçar.
Mas porque não estava prestando atenção.
Muito falatório, pouco avanço.
Na falta de profundidade, o que cresce é o volume.
Gente falando cada vez mais alto.
Dizendo cada vez menos.
Gritando pra cobrir o silêncio que não sabem sustentar.
E hoje, a disputa é com a tela do outro.
Com as notificações. Com o feed.
A ilusão de que dá pra ouvir e fazer outra coisa ao mesmo tempo.
No fim, um acúmulo de nada.
Vivemos numa economia da atenção.
E economia, por definição, lida com o escasso.
O que falta não é foco.
É presença.
Não por incapacidade.
Mas por falta de hábito.
Ou por pura falta de educação mesmo.
Não acontece sempre.
Mas acontece demais.
Não ouvimos.
Só esperamos a nossa vez de falar.
Você já ouviu alguém hoje?
Ou só esperou sua vez?