Julho de 2022. Quase dois anos depois do COVID.
Tentando viver uma vida grande, já que ela é curta. Mas com alguns excessos.
Me peguei admirado com os álbuns de viagem de um conhecido.
Aqueles que mostram uma versão mais colorida da vida no Instagram.
Alguém que viaja bem mais que a média. Bem mais que eu.
Fotos lindas. Lugares lindos. O mundo todo.
Pensei: mesmo que eu começasse a viajar sem parar, não alcançaria esse cara.
Até porque ele também continuaria viajando.
No máximo, manteria a distância.
Ouvi um sussurro. Um pensamento que ficou:
Não vai dar tempo.
Fiquei pensando: não vai dar tempo de quê?
De viajar para todos os lugares?
Tudo bem, então.
Fui a uma livraria. Vi O Senhor dos Anéis.
Nunca tinha lido. Peguei.
Outro sussurro: não vai dar tempo.
Lembrei que Tolkien era detalhista.
Escrevia dezenas de páginas só para descrever a cor da grama.
Não vai dar tempo.
Há muitos livros que quero ler, mas sei que não vou conseguir.
Não vai dar tempo.
Eu, que gosto tanto de livros, devolvi Senhor dos Anéis para a prateleira.
Lágrimas escorreram.
Até hoje penso no que imaginou quem viu a cena.
Talvez alguém tenha pensado em me dar o livro de presente.
“Coitado, deve estar sem dinheiro.”
Mas não era isso.
Na verdade, percebi que já não tinha tempo.
De todos os recursos escassos, o único que é escasso de verdade é o tempo.
Dinheiro existe em abundância. O desafio é capturar.
Mas o tempo… esse não se expande.
Entendi que não vai dar tempo para fazer tudo o que quero.
Desde então, tento escolher melhor.
Tento fazer só o que realmente importa.
Ainda estou aprendendo que escolher também é renunciar.
Dizer “não” para muita coisa. Para que o “sim” tenha peso.
A vida é curta.
E para tudo, não vai dar tempo.
Mas justamente por isso, que ela não seja pequena.