Faço estudos bíblicos diários, mais profundos, um capítulo por dia. Alguns capítulos são mais acessíveis. Outros exigem mais tempo, mais atenção e mais honestidade. Lamentações 3 é um desses textos mais difíceis.
Para mim, a mensagem central do capítulo é clara: a esperança não nasce da mudança de fatos, mas da mudança de foco. O texto ensina que lembrar é um ato espiritual ativo. Quem sofre precisa aprender a governar a própria memória para não ser governado pelo desespero.
Nada no capítulo sugere que a dor diminuiu. Nada indica que a realidade se reorganizou. O que muda não é o cenário, é o eixo interior. No centro do poema, o narrador decide trazer algo à memória. O que nos governa nos dias difíceis: os fatos ou as interpretações que fazemos deles?
Lamentações 3 desmonta a ideia de esperança como emoção espontânea. Aqui, esperança é disciplina. É escolher o que lembrar quando tudo conspira para o esquecimento do que sustenta. Que memórias você revisita quando a dor se prolonga? Elas sustentam ou corroem?
O capítulo não oferece explicações nem atalhos. Ele ensina uma postura. Em meio ao colapso, quem não governa a memória acaba sendo governado por ela. Se o sofrimento não é definitivo, como isso deveria moldar nossa forma de atravessá-lo enquanto ele ainda está presente?