Ezequiel 7 não fala de um fim que se aproxima. Fala de um fim que já se concluiu. Não descreve um evento no horizonte, mas um estado atingido. Tudo continua funcionando enquanto o fundamento que sustentava a vida coletiva já ruiu. O profeta chama isso de fim porque não há mais para onde crescer moralmente. O ciclo se fechou. O que vem depois é consequência.
O contexto é decisivo. O capítulo é anterior à queda final de Jerusalém, mas fala como quem já atravessou o desastre. Ezequiel não tenta evitar o colapso. Ele tenta impedir a leitura errada quando ele vier. No exílio, longe do templo e do poder, o profeta enxerga o que muitos ainda se recusam a admitir: não é crise passageira, é resultado amadurecido. O juízo não será surpresa. Será coerência. “Conforme os seus caminhos”, diz o texto.
Literariamente, o texto é sufocante de propósito. A repetição do “fim” cerca o leitor. O ouro vira lixo, o comércio perde sentido, o templo se torna profanável, a liderança entra em silêncio. Nada é condenado por existir. Tudo é exposto por falhar no momento decisivo. O colapso não é pontual, é sistêmico. Quando todas as mediações falham juntas, o silêncio se torna mensagem.
O refrão final sela o capítulo: “saberão que eu sou o SENHOR”. Não como promessa, mas como resultado. Deus não se revela para evitar o fim. Ele se deixa reconhecer quando os substitutos caem. Quando tudo continua funcionando depois que perdeu o sentido, o fim já começou.
Homileticamente, o ponto mais incômodo é este: o fim vem conforme os caminhos. Não conforme discurso, intenção ou autoimagem. Conforme a direção real da vida. Deus não julga promessas, julga trajetórias. E, enquanto ainda caminhamos, a pergunta permanece aberta: para onde nossos caminhos estão, de fato, nos levando? E, se há algo a ser feito antes que o fim precise ensinar à força, é alinhar o caminho enquanto ainda caminhamos.