Ezequiel 6 confronta algo mais profundo do que a idolatria visível. Os montes, lugares tradicionais de culto a outros deuses, revelam uma fé que perdeu o centro. Altares espalhados dizem menos sobre rebeldia aberta e mais sobre acomodação. Deus não foi negado. Foi descentralizado. E quando o centro se perde, a fé continua ativa, mas já não é fiel.
O profeta fala do exílio, olhando para trás. Jerusalém ainda existe, o culto ainda acontece, a rotina segue. Mas o colapso já começou. Não começou com a Babilônia, começou quando se normalizou a ideia de que Deus podia ser adorado em qualquer lugar, do jeito que fosse mais conveniente. O juízo anunciado apenas torna visível o que já estava em ruínas.
A linguagem do texto é dura porque a situação exige ruptura. Altares precisam cair, ídolos precisam ser quebrados, lugares altos precisam ser expostos. Não se trata de punição cega, mas de cura profunda. Antes de reconstruir a vida, é preciso desmontar os falsos centros que a sustentavam.
O coração do capítulo está em Ezequiel 6.9. Deus se diz ferido por um coração que se prostituiu. A idolatria é descrita como ruptura relacional. Por isso, o juízo não termina no silêncio, mas na memória. O remanescente lembrará. E lembrar, aqui, é voltar. Às vezes, Deus permite que os altares caiam para que o coração, enfim, volte ao lugar certo.