Começo o dia com o Salmo 110. Curto. Denso. Um dos mais citados no Novo Testamento.
Para o cristão, é chave messiânica. Rei e sacerdote.
À direita de Deus, como divindade.
Segundo a ordem de Melquisedeque, como sacerdócio eterno.
Não levítico. Não hereditário. Espiritual.
Para quem crê sem seguir o Cristo, o salmo aponta para outra direção.
Uma monarquia justa. Talvez Davi. Talvez um sucessor.
A figura de Melquisedeque não é messias. É modelo.
Síntese de liderança moral e espiritual.
Para o cético, o texto foi retroativamente reinterpretado.
Era política. Virou doutrina.
Um salmo real, transformado em profecia por conveniência teológica.
Mas pra mim, o que importa é outra coisa.
É o modo como Deus fala. Sem alarde. Sem excesso.
Muitas camadas. Poucas palavras.
Um texto que atravessa tempos e corações.
Não porque explica tudo. Mas porque toca.
Dizer que o salmo é inspirado é uma afirmação de fé.
Não de história.
E essa distinção importa.
A inspiração me guia. Mas não obriga ninguém.
Serve pra mim. Nunca contra o outro.
As Escrituras não se impõem. Sustentam.
Deus fala em silêncio. Mas só quando há escuta.