A adoção da IA nas empresas não fracassa por falta de ferramenta. Fracassa por excesso de ilusão. Compra-se software esperando transformação. O processo continua o mesmo. O resultado também.
Não é sobre licenças de ChatGPT, Gemini ou Copilot. Isso é detalhe operacional. O ponto real é outro. Tornar o uso da IA parte do fluxo de trabalho. Invisível. Inevitável. Quando precisa ser lembrada, já falhou.
O que tenho recomendado há tempos vai contra a tentação do atalho. Em vez de espalhar interfaces genéricas pela organização, o caminho é mais simples e mais trabalhoso ao mesmo tempo. Interfaces customizadas. Encaixadas nas aplicações que as pessoas já usam. Onde o trabalho de fato acontece.
Um exemplo concreto.
A área de negócios precisa abrir uma solicitação para o time técnico. Uma nova feature. O ritual é conhecido. Formulário pobre. Texto raso. Ruído garantido. Em vez disso, peça apenas uma explicação livre. Texto cru. Do jeito que a pessoa consegue escrever.
A partir daí, a IA entra em cena. Não para impressionar. Para traduzir. Ela adapta o texto para o formato esperado pelo time técnico. Devolve ao usuário. Confirma se aquilo realmente expressa o que ele quer. Sem interpretação heroica depois.
Em seguida, a solicitação é avaliada. Criticamente. Notas de 0 a 10 em aspectos relevantes. Passou do mínimo, segue o jogo. Não passou, para tudo.
A IA formula três perguntas objetivas. As respostas melhoram o pedido. Uma nova versão surge. O ciclo recomeça. Até a demanda estar madura o suficiente para não desperdiçar tempo de ninguém.
O efeito é simples. Sai a interface genérica. Entra uma interface turbinada com IA. Fácil de usar. Sem aula de prompt. Sem glamour. Menos ruído entre áreas. Decisões melhores. Menos retrabalho. Menos custo.
Nesse modelo, a IA não é ferramenta.
É infraestrutura cognitiva.
E infraestrutura, quando funciona, ninguém percebe.