Esse é um lamento por aqueles que partem antes de ir embora.
Há alguns meses, minha mãe faleceu. Não senti a perda como imaginei que sentiria. Às vezes, isso ainda me incomoda. Mas não foi frieza. O adeus tinha acontecido antes.
Pela doença, pela idade, minha mãe já não era mais a mesma. Eu a visitava. Conversava com uma senhorinha que tinha sua voz, alguns gestos, certos traços familiares. Mas não suas opiniões, seu juízo, sua presença inteira. Restava algo que a lembrava. Um totem.
Hoje fui ao velório de um amigo que também partiu muito antes de ir embora. A causa foi outra. Por escolhas irresponsáveis, ele se viciou em uma substância que lhe roubou o pensar claro e o agir ajustado. O efeito foi o mesmo. Um afastamento lento.
Ele perdeu a conexão com a realidade. Comigo. Com quem gostava dele. Perdeu a si mesmo. Quando a morte chegou, ela apenas confirmou uma ausência antiga.
É isso que dói. Não apenas a morte, mas a partida antecipada. Quando alguém ainda está aqui, mas já não está. Infelizmente, acontece muito. E sempre deixa o mesmo rastro: o silêncio pesado de um adeus que não teve data, mas teve longa duração.