Jeremias 52 encerra o livro com um relato histórico preciso e desconcertante. Não há discurso, não há explicação teológica explícita, não há novas promessas. O texto registra datas, nomes, números e eventos como quem faz um inventário depois de um desastre. A queda de Jerusalém em 586 a.C., o cerco prolongado, a fome extrema, a brecha nos muros e a captura do rei aparecem sem adjetivos. A tragédia é apresentada como fato consumado.
O capítulo reforça que a destruição não foi súbita nem caótica. Houve deportações em momentos diferentes, atingindo primeiro a elite, depois líderes religiosos e, por fim, o que restava da estrutura política. O templo é desmontado com cuidado técnico. Os utensílios sagrados são listados um a um. O sumo sacerdote é executado, algo raríssimo na história de Israel. O culto não é apenas interrompido. Ele é desmantelado.
O rei Zedequias assiste à morte dos filhos e depois é cegado. O último olhar é o fim da própria linhagem. A cegueira não inaugura a queda. Ela a confirma. A liderança já não via muito antes. O texto insiste nesse ponto sem precisar explicá-lo.
O silêncio de Deus é absoluto. Nenhuma fala divina aparece no capítulo. Ainda assim, o livro não termina no fundo do poço. Décadas depois, já na Babilônia, Joaquim é libertado da prisão, tratado com dignidade e recebe lugar à mesa do rei. Não há retorno, nem reconstrução. Apenas continuidade. O livro fecha afirmando, sem dizer, que o juízo foi real, mas a história não foi encerrada. Mesmo no exílio, algo essencial permanece vivo.