Jeremias 29 é raro. Uma carta profética. Documento diplomático que vira orientação divina. Surge por volta de 597 a.C., logo após a primeira deportação. Nabucodonosor já tinha levado a elite. Artesãos. Nobres. Jovens promissores. Jerusalém ainda em pé, mas frágil. Zedequias no trono, mais símbolo do que rei. A carta circula entre Jerusalém e Babilônia. Um fio político tenso segurando um povo ferido que ainda acreditava em retorno rápido.
É aqui que o texto muda de chave. Jeremias rompe a fantasia. Setenta anos. Número simbólico e concreto. Simbólico porque marca ciclo completo de disciplina. Concreto porque corresponde ao período entre a primeira deportação e o decreto de Ciro, em 538 a.C., quando a Babilônia cai. É a história confirmando a profecia. Tempo suficiente para fechar uma geração e abrir outra, livre dos vícios antigos.
Babilônia era opressão, mas também potência. Uma cidade que parecia invencível. Muros gigantescos. Engenharia avançada. Astronomia. Ordem urbana. E justamente ali o profeta diz o impensável. Vivam. Trabalhem. Plantem. Casem. Busquem o bem da cidade inimiga. É provocação histórica. E é maturidade espiritual. O exílio não seria pausa. Seria reconstrução interna. O lugar da perda vira o lugar do recomeço.
E é nessa tensão que a promessa ganha força. Planos de paz. Futuro. Esperança. Não anestesia. Direção. O capítulo inteiro aponta para uma lição firme. Pare de esperar o mundo voltar ao normal. Cresça onde você está.