A Cloudflare caiu ontem por um motivo banal e devastador. Uma permissão errada num banco. Um arquivo que cresceu além do esperado. Um módulo que não aguentou ler o que recebeu. Um gargalo. Uma trava. E pronto. O mundo tropeçou. Não teve ataque. Não teve vilão. Teve complexidade fazendo o que complexidade sempre faz. Uma hora ela cobra.
E é isso que muita gente não entende. Sistemas desse tamanho não caem por um erro. Caem pela soma de pequenos detalhes que ninguém vê. O acidente é sempre uma coreografia improvável que só dança inteira quando tudo está grande demais para ser domado. A pergunta nunca é se vai cair. É quando. É inevitável. Escala tem essa mania desagradável de transformar exceções em destino.
E aí vem a parte bonita. Muita empresa enorme ficou fora do ar. E ficou porque escolheu. Redundância total custa caro. Caro o bastante para ninguém bancar todos os dias. Então aceitam o risco. Apostam que a queda será rara. E mesmo quando acontece, como ontem, a conta fecha. Simples assim. Pagar por perfeição sai mais caro do que sobreviver a algumas horas de caos.
No fim, o incidente não expôs fragilidade. Expôs racionalidade. A internet funciona porque todo mundo aceita um pouco de desastre no contrato. É o preço de jogar alto. Quem quer zero risco paga caro. Quem entende o jogo escolhe onde sangrar. E ontem, sangrando ou não, o mundo continuou exatamente como estava: dependente, vulnerável e, financeiramente, confortável com isso.