Jeremias 24 tem a força de uma visão simples que revela um mundo rachado. Dois cestos diante do templo, depois do trauma de 597 a.C., quando Nabucodonosor levou Joaquim, nobres, artesãos e parte da elite de Judá para a Babilônia. Jerusalém ainda estava de pé, mas só por fora. Por dentro, já tinha quebrado.
Os figos bons são os exilados. Os arrancados. Os que perderam tudo e foram levados para longe. Na lógica da época, eram os amaldiçoados. Na lógica de Deus, eram os preservados. A promessa é para eles: plantar de novo, edificar de novo, dar um coração capaz de enxergar o que antes ignoravam.
Os figos ruins são os que ficaram. Sedecias no trono, tentando acordos. A elite remanescente agarrada ao templo como se a pedra garantisse presença. Mas permanecer na cidade não era bênção. Era o último suspiro antes do colapso final.
Essa inversão histórica vira um espelho íntimo. Às vezes, o que chamamos de “perda” é o único chão fértil. Às vezes, o que chamamos de “segurança” é só apego. O exílio deles era geográfico. O meu, o seu, costuma ser emocional, profissional, espiritual. Tem momentos em que Deus preserva tirando. E momentos em que insistir em ficar é o que destrói.
O capítulo me lembra que reconstrução raramente acontece onde eu queria. Ela começa onde eu não escolheria. Mas onde, por algum motivo, eu precisava estar.