Jeremias 7 é o discurso do templo. Um dos momentos mais marcantes do livro. O profeta fala diante do sagrado e denuncia a ilusão de segurança de um povo que confia nas paredes, mas esquece o Deus que habita fora delas.
O templo ainda está de pé. Os rituais continuam. Mas a fé se tornou hábito. Jeremias lembra: a segurança não está no edifício, mas na obediência. Deus permite a destruição. E ela virá.
A mensagem é simples. Cuidar das viúvas e dos órfãos vale mais que qualquer sacrifício. Tiago, séculos depois, diria o mesmo: religião verdadeira é prática, não aparência. A fidelidade a Deus se mostra nos atos, não nos altares.
O discurso foi proferido antes do exílio. A ameaça da Babilônia ainda não era visível, mas já estava a caminho. O povo não via. O profeta via. E chorava. O exílio começava por dentro, no coração afastado. O mais grave não era perder o templo, mas perder a Presença.
O exílio da Presença acontece quando os rituais substituem o arrependimento. Quando o nome de Deus é dito, mas não sentido. Quando o incenso sobe, mas o coração não se eleva. Deus não se engana com o perfume do incenso quando o altar está sujo de injustiça.
O exílio físico viria depois, como reflexo do vazio espiritual. O primeiro leva o corpo. O segundo leva a alma. E o mais difícil de voltar é o que acontece por dentro.
Jeremias 7 permanece atual. A fé ainda corre o risco de virar cenário. Os templos ainda se enchem. E o coração, muitas vezes, fica ausente. O chamado de Deus continua o mesmo: que a fé volte a ser viva. Que a Presença volte a habitar o sagrado.