Chego a Cânticos 4 pensando no poder do olhar que engrandece. O amado não descreve apenas o que vê, mas torna cada detalhe maior do que é. Os olhos não são só olhos, tornam-se pombas. Os dentes não são apenas dentes, são ovelhas alvas, ordenadas. Os lábios não são cor, mas poesia. O amor aqui não constata, ele cria. Não por negar a essência, mas por revelar nela um significado maior.
Esse é o tipo de amor que quero. Não o que mede, mas o que amplia. Não o que classifica, mas o que consagra. Que olhe para o ordinário e o traduza em extraordinário. Que veja no que sou algo além do que aparento. Que me diga jardim fechado, fonte selada, não para me restringir, mas para afirmar que em mim há mistério, reserva, promessa de abundância.
E na minha relação com Deus, quero receber esse mesmo olhar. Quero que Ele me veja como mais do que o simples que enxergo em mim. Que Seu amor transforme marcas em símbolos, gestos em profecia, corpo em templo. Quero também aprender a olhar para Ele assim, não apenas como é revelado, mas como sempre mais do que posso compreender. Porque os olhos de quem ama criam, e é nesse criar que nos tornamos imagem e semelhança de Deus.