Chego a Eclesiastes 3. Um dos textos mais conhecidos e belos da Bíblia. Aqui, Salomão fala sobre o tempo. E sobre Deus.
“Tudo tem seu tempo determinado.” Enquanto os seres humanos vivem o tempo como uma sequência de eventos incertos, Deus governa passado, presente e futuro com soberania. Nenhuma circunstância o surpreende.
Ele não apenas conhece o tempo. Ele o criou. Quando algo parece fora de lugar aos nossos olhos, é apenas porque ainda não chegou ao fim.
Salomão apresenta quatorze pares antitéticos. Vinte e oito experiências que cobrem todo o espectro da vida. “Tempo de nascer e tempo de morrer”, “tempo de chorar e tempo de rir”, “tempo de amar e tempo de aborrecer.” Entre cada extremo, está a dinâmica da existência humana. Instável para nós. Nunca para Deus.
Ao contemplar a vida por essa ótica, percebe-se que Deus não deixou o mundo à deriva, nem sem propósito. Existe um tempo certo. Kairos, estabelecido por Ele. É diferente do tempo cronológico (chronos).
O kairos é o momento oportuno, com propósito definido e resultado ajustado. Por isso, se algo ainda não está certo, é porque Deus ainda não terminou.
A vida traz despedidas e reencontros, conquistas e perdas, silêncios e palavras. Há momentos para guardar, e outros para deixar ir. Deus rege tudo com sabedoria perfeita. Mesmo quando não compreendemos.
Mas vivemos num mundo onde a injustiça prospera. Salomão observa maldade nos lugares onde deveria haver justiça. O inocente é condenado, o culpado, absolvido. Ainda assim, ele afirma com convicção: “Deus julgará o justo e o perverso.” Esse julgamento é certo, justo, inevitável.
Nenhum tribunal humano poderá impedir ou distorcer esse juízo.
Salomão também reflete sobre a morte. Todos morrem e voltam ao pó.
No fim, afirma que é bom desfrutar da vida, do trabalho honesto, do dom de estar vivo. Não com murmuração, mas com gratidão. Não como quem ignora o amanhã, mas como quem confia que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.
Há tempo para todas as coisas.
E cada tempo é governado por um Deus que vê o todo, enquanto nós enxergamos apenas uma parte.