Que padrões as inteligências artificiais conseguem reconhecer que nós, humanos, não conseguimos? E o que isso transforma ou atrapalha no que fazemos?
Em 2017, o Google apresentou o AlphaZero. Não era só mais um programa de xadrez. Era um outro jeito de pensar o jogo.
Durante décadas, os melhores motores de xadrez funcionaram com base na lógica humana. Força bruta. Capacidade de calcular milhões de possibilidades por segundo. Heurísticas baseadas na nossa leitura de tabuleiro. Memória quase infinita. Dados de séculos de partidas jogadas por grandes mestres.
Foi essa abordagem que gerou o Deep Blue, o supercomputador da IBM que venceu Kasparov em 1997. O Stockfish seguiu esse caminho. Potência e reprodução. A melhor máquina era a que melhor nos imitava.
O AlphaZero mudou isso. Não recebeu heurísticas humanas. Não foi treinado com nossas partidas. Jogou contra si mesmo por horas. Errou, testou, aprendeu. Identificou padrões que ninguém ensinou.
E o mais impressionante: esses padrões não eram nossos. Nem parecidos.
Assistir às partidas entre AlphaZero e Stockfish é desconcertante. Os lances não fazem sentido à primeira vista. Muitos seriam descartados por qualquer jogador experiente. Mas conduzem à vitória.
Kasparov, que perdeu para o Deep Blue, disse que o AlphaZero abalou as estruturas do xadrez. E tinha razão.
Antes, as máquinas nos venciam jogando como nós. Agora, vencem jogando de outro jeito.
Se em um jogo milenar como o xadrez a IA viu em dias o que nós não vimos em séculos, o que ela pode ver em áreas como medicina, matemática ou física?
Talvez os padrões que já estão nos desafiando nem tenham sido reconhecidos ainda. Nem por nós.