Há quem diga que é preciso escolher: ou se acredita na ciência, ou na fé. Mas na maioria das vezes, elas dizem a mesma coisa. Em línguas diferentes.
A ciência observa. A fé contempla. A primeira pergunta como. A segunda pergunta por que.
Quando não estão contaminadas pelo orgulho, ambas se curvam diante do mesmo mistério: a existência.
A Bíblia afirma que, no princípio, Deus criou. A ciência também fala de um princípio. Um ponto de origem. Espaço, tempo, matéria e energia surgindo juntos. Luz e expansão.
A Escritura diz: haja luz. A ciência confirma: houve luz. No primeiro dia, a separação entre luz e trevas. O tempo nasce.
No segundo, as águas se separam. Forma-se o céu. A ciência descreve vapores, gases, uma atmosfera em formação.
No terceiro dia, terra seca e vegetação. A cronologia evolutiva confirma: a vida vegetal veio antes dos animais.
No quarto, aparecem os luminares — Sol, Lua, estrelas. Talvez sempre tenham estado ali. Mas a Terra, ainda envolta em densidade, não os via. Até que o céu clareou.
No quinto, surgem os peixes e as aves. A vida começa no mar. Depois, seres alados. No sexto, animais terrestres.
E, por fim, o ser humano. A Bíblia diz que somos pó. A ciência concorda. Ferro, cálcio, carbono; tudo vindo da terra, das estrelas.
Não são narrativas em conflito. São janelas abertas para o mesmo horizonte. O que muda é o ângulo. Não preciso escolher entre elas. Deus não está fora da ciência. E a ciência não elimina Deus.
O problema está em quem fala em nome Dele com dureza, com medo, com a pretensão de controle. Como se Deus precisasse de proteção contra telescópios. Como se se ofendesse com microscópios.
Cada descoberta revela um traço. Cada lei natural, uma assinatura. A ciência mostra o funcionamento. A fé revela o propósito.
Por isso, eu creio. Creio lendo física. Creio vendo o sol nascer. Creio porque o universo tem ordem.
E porque, mesmo feito de barro, posso pensar, amar, buscar. Nem a biologia explica isso por inteiro. Nem a química.
Seja o Gênesis poema ou manual, não há conflito. Há sentido.
Ele diz: haja luz. E eu respondo: há.