Começo meu dia com o Salmo 90. Atribuído a Moisés, é um dos textos mais antigos da Bíblia. Ele nos lembra daquilo que a rotina insiste em nos fazer esquecer: somos criaturas temporais que anseiam pelo eterno. Pelo menos, muitos de nós.
O versículo 12 é o que mais me toca: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.”
Mas o que seria sabedoria? O que seria propósito? Propósito é uma tentativa de ordenar a vida. Dar um lugar certo às coisas, no espaço e no tempo. É o que permite priorizar. Mas priorizar com base em quê?
No que satisfaz agora? Ou no que nos conecta com Deus e com a eternidade? Essa é a tensão: sacrifico o que mais quero na vida pelo que mais quero agora?
Não se pensa em eternidade sem encarar a morte. O Salmo 90 faz essa distinção com clareza. A morte como passagem. Como revelação. Como espelho. Quem você quer ser no momento de morrer? A resposta aponta para o seu destino. E, talvez, para o seu propósito.
Em meio a tudo isso, surge outra pergunta: seguiremos com consciência individual na eternidade? Ou ela se dissolve, para que, sem ego, reste apenas comunhão com Deus? Responder isso é especular. Ou crer. Porque essa verdade não foi revelada. Mas a pergunta importa.
Importa porque viver com propósito é viver cada momento à luz da morte e daquilo que queremos levar pra além dela. No fim, não será o que temos. Nem o que sabemos. Nem com quem andamos.
O que nos descreverá será aquilo que permanece. Nossos princípios. São eles que, se verdadeiros, nos conectam com o eterno. O desafio de viver no tempo de Deus é conseguir projetar o valor da eternidade em cada momento. Pra que o que somos agora seja coerente com o que queremos ser quando chegar a hora de morrer.