Em tempos de inteligência artificial, o que assusta não é a máquina. É a artificialidade humana.
A frase já virou rotina: “Para sua segurança, esta ligação está sendo gravada.”
Deveria ser aviso de transparência. No Brasil de 2025, soa como armadilha.
Call centers digitais, vozes treinadas, scripts pensados no detalhe. Tudo operando golpes contra aposentados. A tecnologia não protege. Executa.
A reportagem do Fantástico mostrou o que muitos já sabiam, ou sentiam na pele. Operadores induzem idosos a dizer “sim” sem saber ao quê. Gravações são forjadas. Em alguns casos, a voz da vítima é simulada por um funcionário. A autorização falsa vira oficial.
“Nem sei que serviço é esse, só vi que meu dinheiro sumiu.”
Depoimento de uma mulher de 74 anos. Real. Cruel.
O esquema passa de R$ 6 bilhões. Milhões de brasileiros atingidos. Tudo com aparência de legalidade: gravação feita, sistema registrado, desconto autorizado. A fraude virou processo. A mentira, protocolo.
É um crime com CNPJ. Um golpe com crachá. Empresas legalmente abertas, metas de conversão, treinamentos padronizados. A fraude foi treinada. O Estado assistiu. Só reagiu quando o escândalo virou manchete.
Não é erro técnico. É arquitetura. A tecnologia foi usada para mecanizar o engano. Automatizar o abuso. A inteligência não está no código. Está em quem o manipula, e no que decide fazer com ele.
Voltamos à frase inicial:
“Para sua segurança…”
Não é sua. É do golpe.
Porque, se a máquina ainda tenta aprender o que é empatia, o humano parece já ter desistido de lembrar.