Começo o dia com o Salmo 107.
Ele abre o Livro V com um aviso claro: Deus escuta.
Não nega o sofrimento. Responde a ele.
O texto apresenta quatro imagens de aflição.
Deserto. Prisão. Doença. Tempestade.
Cada uma revela um tipo de perda.
Cada uma é seguida por um clamor.
E a resposta vem. Sempre vem.
Não como milagre teatral.
Como presença que resgata sem se impor.
O salmo é alegoria da jornada espiritual.
O deserto é solidão.
A prisão, culpa.
A doença, limite.
O mar revolto, a instabilidade de estar vivo.
Em todas, Deus não invade. Espera o grito.
Só então se move.
Ontem dizia a amigos: o que separa a esperança do desespero é o horizonte.
Quem só enxerga o imediato, afunda.
Quem olha além, respira.
Deus é esse além.
A ausência Dele não é abandono. É espaço.
Presença que não controla.
Retirada que permite liberdade.
Não há amor onde há coação.
No salmo, o socorro não é instantâneo.
Há dor. Errância. Reconhecimento.
A ajuda não nasce do orgulho.
Vem do ponto em que já não há disfarce.
E quando Deus age, não é com força.
É com leveza.
Porque o amor que se impõe, domina.
O que espera, liberta.