27/07/2024

Prudência e Contemplação

Como definir Sabedoria? Não é fácil.

Para Aristóteles, que tentou explicar muitas coisas, a Sabedoria seria o encontro da Prudência (Phronesis) com a Contemplação (Sofia). O sábio, então, seria aquele que é prudente e contemplativo.

A Prudência é a sabedoria prática, a capacidade de deliberar sobre as ações que devem ser realizadas para alcançar um bem moral. Phronesis, nome grego bonito para Prudência, envolve a habilidade de julgar o que é justo, adequado e virtuoso em situações específicas. É uma sabedoria aplicada, que se desenvolve através da experiência e da prática contínua, como uma musculatura que cresce com a prática diária e com os “machucados” causados por cargas maiores do que as que suportamos geralmente.

Anos atrás, fui convidado a uma festa onde encontraria dois casais homossexuais. Fui advertido sobre isso e, de pronto, respondi que estava tudo bem. No entanto, depois pensei: será que está tudo bem mesmo? Teoricamente, eu era “inclusivo”, mas seria também na prática? Tive orgulho de mim quando confirmei que realmente “estava tudo certo”. Vivência é fundamental para desenvolver a verdadeira Prudência.

A Contemplação é a sabedoria teórica, o conhecimento profundo e reflexivo das verdades universais e eternas. Sofia, nome grego bonito para Contemplação, é especulativa, sempre buscando entender a natureza fundamental da realidade e os princípios que governam o universo. Aristóteles considerava a Contemplação mais elevada, por buscar causas primeiras e princípios fundamentais.

Minha experiência na festa também reflete a Contemplação, pois refleti profundamente sobre meus próprios valores e preconceitos antes de agir. Para Aristóteles, a vida virtuosa e sábia requer equilíbrio entre Prudência e Contemplação. A primeira orienta a ação correta no mundo prático, enquanto a segunda promove compreensão e realização intelectual e espiritual. Prudência para as coisas da carne, Contemplação para as coisas do espírito.

Sabedoria, combinação da Prudência e da Contemplação, para Aristóteles, era o atalho para a Eudaimonia – a felicidade plena. As duas são a base para que cada um de nós vivamos em plenitude as nossas virtudes, mantendo o equilíbrio cósmico. Afinal, para os gregos, a vida boa era aquela em que cada um faz aquilo que nasceu para fazer, conforme a sua natureza.

Mas sou cristão. Cristo, para mim, é mais do que Deus encarnado. É um pensador como foi Aristóteles. Aliás, um pensador que dá um passo além da concepção grega para ética e para a felicidade. Para Cristo, à Prudência e à Contemplação, é necessário acrescentar o Amor e a Caridade (Ágape). Este Amor transcende a justiça e a prudência humanas e aristotélicas, buscando sempre o bem do outro, mesmo à custa do próprio sacrifício. Minha experiência na festa exemplifica esse Amor e Caridade, pois fui capaz de acolher e respeitar o próximo sem julgamentos.

Aristóteles, grego, valorizava a excelência individual (Areté). Cristo enfatiza a humildade, pelo reconhecimento de nossas limitações. Minha experiência pessoal também mostra a importância da humildade. Pude reconhecer meus próprios preconceitos e superá-los na prática.

No entanto, perceba que meu orgulho de mim mesmo entra em conflito com a necessidade de humildade. Longe de mim pensar que está tudo certo. Contemplar e ter prudência faz sentido para que continuemos reconhecendo, com humildade, que estamos muito longe de fazer o certo o tempo todo. A Sabedoria humana nunca é plena. A divina, como Tiago ensina, é adquirida pedindo a Deus. Somente dessa forma.

Para completar, Cristo também enfatiza a Fé e a Esperança. Não sob uma perspectiva irracional, mas pelo reconhecimento da ação definitiva divina. A felicidade plena aristotélica era a Eudaimonia. A felicidade plena cristã é a beatitude (Makarios). Makarios, palavra grega bonita para Beatitude, não se afasta da Prudência e da Contemplação, mas adiciona uma orientação para tais práticas. Trata de ter Prudência e Contemplação com base forte no Amor, orientados à Caridade, sustentados em Fé e Humildade.

Cristo amplia a compreensão aristotélica e corrige suas falhas. Se no início disse que não via Cristo apenas como Deus encarnado, agora afirmo que minha crença de que Cristo é Deus mostra que suas “correções a Aristóteles” são o caminho a seguir. Prudência e Contemplação são fundamentos para a atitude humilde que reconhece que a Sabedoria verdadeira vem de Deus. Daí a importância de reconhecer a Cristo como referência. Ele, sendo Deus, é a fonte única de Sabedoria que vale a pena.

Como definir Sabedoria? Sim, pode ser pela combinação de Prudência e Contemplação, em busca da Beatitude.

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