Se há algo que nunca vi foi consenso para o significado de “produto pronto” nas as áreas de desenvolvimento, marketing e vendas.
Trabalho há mais de 20 anos desenvolvendo produtos de software e ainda sinto calafrios quando ouço perguntas tipo: “Produto X estará pronto para a feira?”. Isso porque, geralmente, não tenho a menor ideia do que o meu interlocutor está querendo dizer. Normalmente, o que ele entende por “pronto” é bem diferente daquilo que eu entendo.
Há algum tempo, tentando minimizar o sofrimento geral, venho propondo uma definição simples mas abrangente para “produto pronto”. Aliás, quatro definições complementares. Defendo que há quatro “estágios de pronto”. São eles:
- Pronto para Testar
- Pronto para Divulgar
- Pronto para Vender
- Pronto para Exportar
Pronto para Testar
Penso que um produto está pronto para testar quando:
- Tem uma proposição de valor claramente definida
- Possui features que atendem claramente a proposição de valor
Se você não sabe que problema seu produto ajuda a resolver, então as chances de criar um bom produto são claramente reduzidas.
Seguindo Paretto, assumo que 20% das features de um produto de software geralmente entregam 80% do valor (da proposição do valor). Se essas features não estiverem implementadas, não há o que testar.
Quando alguém pergunta para a área de desenvolvimento “Quando produto X estará pronto?”, só poderá ter como resposta quando haverá algo pronto para ser testado.
Produto não fica “Pronto para a feira” na área de desenvolvimento.
Pronto para Divulgar
Considero uma série falha estratégica divulgar um produto antes que ele esteja pronto… para divulgar.
Um produto pronto para divulgar precisa:
- Ter clientes que atestam que as features implementadas conseguem entregar a proposição de valor
- O produto já possui um nome (e marca)
- Ter suporte qualificado
- Uma ideia de preço (captura do valor proporcionado)
Se estas quatro premissas não são atendidas, então, as chances de ficar “sem resposta” para questões dos clientes é grande.
Em vendas, dizem, timing é tudo!
Pronto para Vender
Há quem defenda que divulgar um produto sem poder vender é um erro. Há quem defenda que não.
Para um produto estar pronto para vender, é necessário:
- Ter canais de venda e distribuição acertados e capacitados;
- Ter estrutura de custos e geração de receitas bem definidas (o tal business model)
- Ter mecanismos para faturamento e cumprimento de obrigações fiscais implantados
Pronto para Exportar (vender fora)
Para poder exportar, é necessário:
- Ajustar cultura (considerando cores, medidas, etc)
- Traduzir adequadamente
- …
- Certificar-se, em cada mercado, que todos os outros “prontos” já ocorreram
Concluindo
Produto pronto é um conceito complexo. O “pronto” do desenvolvimento não é suficiente para divulgar. O “pronto para a feira” está longe de ser o pronto para vender. Ter um produto que vende bem não significa que “basta traduzir para exportar”.
Infelizmente, o que mais vejo é pessoas antecipando o “pronto”. Por vias das dúvidas, a culpa é sempre do desenvolvimento que não consegue cumprir prazos e “atrasa o lançamento”, não é mesmo?
Comentários?
Capa : Pineapple Supply Co.
2 respostas
Excelente post Elemar!
De fato, essa é a questão mais esquisita dentro da área de desenvolvimento, justamente por ser onde todas as outras áreas fazem uma convergência.
Além dos problemas na especificação e priorização do backlog, acredito que a falta de acompanhamento é causa desse problema.
Gosto de pensar que nenhum projeto atrasa 1, 2 ou 3 meses, ele atrasa, 30, 60 ou 90 dias, sendo um dia de cada vez.
Acho que essa é uma das motivações da Daily meeting, que acaba na maioria das vezes sendo entendida como uma reunião sem sentido.
Excelente questão! Acho que não a toa, no Scrum, é um requisito forte definir a noção de pronto, com critérios de aceitação, e ser globalmente informando.
O que é uma noção magnífica, até nos sub processos: qual é o pronto de design e ux? O pronto de negócios e requisitos?
Acho que no fundo, é tudo uma questão de “gestão do óbvio” das necessidades do próximo nível, afinal, todo mundo tem uma ideia rápida (egoísta e tendenciosa ao escopo da área em que trabalha) de “o que é pronto”. O negócio é ter essa consciência de fazer o alinhamento de expectativas sobre esse pronto.